quinta-feira, 25 de junho de 2015

O ar que nos mantêm vivos

estou sem ar.
não por causa das palavras
não por sua causa
é pela falta
de ambas
e o acúmulo
insignificante
que o dia a dia
aglomera na mente
usando o espaço
que deveria
ser só
seu
e das palavras
minhas
que brotam
por sua causa.

sábado, 7 de março de 2015

Ferida

há uma ferida
que a cada dia
me fere mais.

e não há plaquetas
ou glóbulos vermelhos
que possam
cicatrizá-la.

fratura exposta
que implode interna-
mente
e chega ao físico
fazendo meus olhos
e minha vida
mudarem de cor.

há uma ferida
que só quem dói
sente.


segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Sonótono

Conforta cada pedacinho da minha alma
E, ao mesmo tempo, me mata aos poucos
Toda tempestade que me acalma
Encontra-se nos seus gritos, roucos.

Me tens perdida, sã e salva
Com as palavras e os cabelos soltos
Em cada linha que se tem na palma
das suas mãos é meu caminho novo.

Assim eu peço
Me deixe só
Só contigo por toda a vida.

Assim eu meço
O tamanho do nó
Que se desata em cada ferida.

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Espaço

Não caibo mais em mim de tanto transbordar você.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Hoje eu não vou escrever sobre o amor

Hoje eu não vou escrever sobre o amor
Porque ele às vezes enjoa
Porque ele às vezes é dor
Que dói na alma do poeta
E se derrama no papel
Sujando todas as palavras
Com sangue.
Amor que dói na alma
Da menina de 15 anos
Daquele que perde alguém
Do não-correspondido
E se derrama em lágrimas.
Hoje eu não vou escrever sobre o amor
O amor que contrai o ser
O amor das letras tristes
O amor que faz sofrer.

sábado, 3 de janeiro de 2015

Baú de Poemas Antigos

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o autor do mundo
era um poeta
fez dos versos, universos.

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lave a xícara de café antes de ir
e junte as roupas espalhadas pelo chão
arrume a cama e guarde o violão
leve a tristeza antes de rir

esqueça os filmes que deixou de assistir
e guarde na mochila toda a razão
toda desculpa e todo perdão
que já não há mais razão para insistir

não deixe tudo desorganizado
o tempo não tem que ficar parado
por causa de uma decisão

se já escolheu seu lado
ao menos deixe o passado
no lugar onde nada é em vão.

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Peguei sua frase 
Separei as palavras
Uma por uma, letra por letra.
Depois de contadas
Encontrei uma crase 
Estava perdida, na incerteza.

Sem coerência, sem coesão
Sem primacia na divisão

Sem residência, de emissão
Frase sozinha beirando à canção.

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reclama da rotina
e a rotina
é reclamar

mas ama a rotina
quando a rotina
é amar

melhora a autoestima
um pouquinho
pra rimar.

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Desejo a liberdade, senhor.
Se é que você me entende.
Quero fugir do amor
Pr'aquele que mais me prende.

Desejo que faça um favor
Tão simples e contundente:
Avise a ele que a dor
Ainda se faz presente.

É mais que querer voltar
No tempo e impedir de acabar,
Tudo o que já acabou.

É mais um querer falar
Que tão cedo irá passar
Aquilo que já passou.

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terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Clara Escuridão

a madrugada
com toda sua escuridão
ilumina os pensamentos
que estão quase se
desb(r)otando
de tão lembrados.

sábado, 20 de dezembro de 2014

Detalhes

Eu amo cada célula que compõe o seu organismo. Amo cada átomo que forma as coisas ao seu redor. Amo cada poeira que se deita nos móveis da sua casa. Amo cada nanosegundo que passo perto de você. Queria ser cada molécula de água que toca em sua pele em dias de chuva. Eu amo cada grão de areia que você pisou na praia e permaneceu em seus pés. Quero lembrar cada letra, de cada palavra, de cada frase que você já proferiu. Espero sentir cada tremor que abala a atmosfera quando você respira. Queria reter cada detalhe minucioso que me faz te amar cada vez mais.

Close the door

Feche a porta
Do futuro
Pois ainda é cedo
Pra partir.
Não se põe a olhar
Por cima do muro
Pois o vento ainda
Sopra aqui.
Viva o instante
E os segundos a mais
Até que o semblante
Transpareça
O que te traz
Paz.

Ruas

Nós somos ruas:
Intercaladas
Paralelas
Paradas

Nas suas curvas, na autoestrada
Dirijo na contramão.
Depois da chuva, na madrugada
Redobro minha atenção. 

Nós somos ruas:
Decoradas
Com faixa amarela
Delimitando
Aproximação.

sábado, 22 de novembro de 2014

Ela

Ela solta o cabelo, segura minha mão
Ela chupa o meu dedo, se joga no chão

Ela deixa acontecer tudo planejadamente
Ela prende o cordão entre os dentes

Ela ri sozinha querendo atenção
Ela só canta se tiver violão

Ela escreve e demonstra o que sente
Ela sofre antecipadamente

Ela diz que não diz coisas em vão
Ela sempre prefere o sim ao não

Ela ouve um sambinha contente
Ela inventa detalhes à mente

Ela vê exatamente o que os outros são
Ela esbanja beleza, carinho e perdão

Ela passa soprando poesia
Enfeitando minha vida com sintonia.

sábado, 15 de novembro de 2014

My only friend

O Fim fica à espreita
esperando algum sinal
de que as coisa, de que a vida
não dê certo; ande mal.

observa-dor
descolorindo cada detalhe
conserva-dor
conservando a tempestade.

um peso a mais
até que um adeus
traga paz.


sábado, 18 de outubro de 2014

Prisão

Prendeu-me ao seu cheiro
Roubou meus sorrisos
Prendeu-me a tua voz
Roubou-me o sono
E fez-me sonhos.
E dizem que o amor é liberdade.

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Calçadas

o caminho mais seguro
que lhe poupa a vida
quando o bêbado depois da festa
olhando quase que pela fresta
passa apostando corrida.

o caminho mais limpo
onde as senhoras domésticas
desperdiçam água lavando
o que, de vez em quando,
eu vejo quando estou vindo.

o caminho mais rápido
quando o trânsito que para o mundo
insiste em continuar
impedindo que as horas
do bêbado, das senhoras
sejam transformadas em segundos
ao andar.


Ondas

tecendo os dias
com as próprias mãos
calmaria, calmaria
por que não?
controlando
cada passo
controlando
cada laço
maresia, maresias
vêm e vão.


sábado, 19 de julho de 2014

Prove que você não é um robô

Já tentei não sentir. Tentei não sentir ciúmes daquela olhada para a moça ruiva que passava do outro lado da calçada enquanto tomávamos café em alguma rua no centro. Tentei não sentir frio quando te emprestei minha blusa, enquanto esperávamos o ônibus, de madrugada. Tentei não sentir raiva quando você chegava 30, 40, 50 minutos atrasada. Tentei não sentir medo de te perder quando nós brigávamos e você ia embora com raiva. Tentei não sentir sono enquanto te esperava dormir. Tentei não sentir saudade quando ficava mais de 2 segundos sem te ver.

E falhei miseravelmente em todas as vezes. Ainda bem.

Sentir não é algo manual, onde você tem um controle remoto que vai alternando as opções. Também não é algo programado, você não é um robô. Talvez seja a coisa automática mais linda que existe. E, se eu pudesse escolher não sentir, sentiria. Porque o que eu sinto é o que me faz suportar os olhares que não são pra mim, o frio, os atrasos, o medo. Menos a saudade, pois não há sentir sem senti-la.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Plano

Boa tarde, senhora. Gostaríamos de comunicar-lhe que tudo deu certo. Tudo saiu exatamente como planejou. Não houve nenhum problema que pudesse fazê-la refletir a respeito dos próximos passos, porque tudo deu certo. Não houve erros que pudessem lhe ensinar algo ou moldar o seu caráter, senhora. Não precisa perder noites de sonos imaginando como seria se tudo tivesse dado certo. Não precisa chorar, senhora. Não precisa se esforçar mais. Não precisa crescer na vida e mudar suas atitudes: tudo deu certo. Não precisa culpar alguém, não precisa justificar suas tendências alcoólicas, não precisa almejar um futuro melhor: tudo deu certo. 

sábado, 10 de maio de 2014

Viagem

Na estrada das contradições 
Eu vou na contramão
Ela pega a minha mão
E acontecem colisões 

Na estrada das contradições 
Que não é estrada, nem rua
Que não é minha, nem sua
Aquelas nossas indecisões

Por fim, na estrada das contradições
O que nos resta é improvisar
Um destino além-mar
Que vá além das intensões. 


domingo, 23 de março de 2014

Culpada

É tanta felicidade que já não sei mais onde guardar. Já fiz estoques que me manteriam por anos, mas a cada dia chega mais felicidades. Antes, elas apenas ficavam dentro de mim. Depois, se expandiram pro meu quarto. Logo eu andava pela casa e sempre encontrava um pouquinho de felicidade esparramada no chão, grudada na parede, entre os meus livros, minhas roupas, debaixo do travesseiro. Não se contentando com o meu lar, todo esse acúmulo de felicidade chegou até o meu trabalho. Até minha faculdade. Até os lugares onde eu frequento. Deixando pegadas por onde quer que eu passe.
Minha vida se tornou um caos de tanta felicidade.

Obrigada por isso.


domingo, 9 de março de 2014

Mundo

gira 
e me deixa
tonta.

mundo-círculo
curvas-queixas
semi-abertas
semi-prontas.

gira
e não me deixa.
(afronta)

quarta-feira, 5 de março de 2014

Five

Os pares brilhantes servem como refletores. Neles contém trechos do futuro que, a cada dia, chega tão devagar e passa tão rápido. Neles eu te vejo e me vejo. Te encontro e me encontro.

Os olhos são só o começo. Só a frestinha que me permite olhar pro seu mundo e me aventurar, de longe, sem tocar. Mundo que só tem uma maneira de ser descoberto: fazendo parte dele.

Estou começando a conhecê-lo.

(Feliz 5 meses de namoro ♥)

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Casamento

Hora de subir as escadas. Seu vestido longo, lindo, será o responsável por seu primeiro tropeço no quinto degrau. Seu salto quebrará, mas não importa, porque será hora de subir as escadas. Pouca luminosidade e uma corrente de ar entrando através da janela irá compor o cenário em que toda sua vida mudará. Subindo um degrau de cada vez, você, descalça, chegará ao local. Todos olharão e se indignarão ao lhe ver segurando os sapatos. Você caminhará até o altar, contemplando o resultado de todo o investimento de tempo, dinheiro e amor. Tudo estará exatamente como você sempre sonhou. Dois homens estarão à sua espera. O que está mais acima fará uma cerimônia que roubará as palavras de todos os convidados, regida de uma clássica emoção que talvez induza algumas lágrimas a caírem. Este mesmo homem lhe fará uma pergunta, a qual a resposta surpreenderá negativamente os expectadores. Assim, você descerá as escadas sutilmente. Aliviada. Feliz. E enquanto lhe esperarei sair pelo portão, estarei olhando no retrovisor e treinando a frase "eu te avisei" para ver qual o tom que mais combina com você.  

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Conversão

o amor é o combustível
para se converter
todo sentimento incrível
em frase clichê.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Sim ples

"A busca pela simplicidade acaba complicando tudo ainda mais. A simplicidade é natural, e a beleza incomparável que nos chama atenção está exatamente em não precisar fazer esforços para consegui-la."

Essa era a última frase da carta. Após terminar de escrevê-la, pegou o carro, andou por três horas até chegar aos correios. Esperou 2 horas na fila. Pagou pelo envio, que só iria chegar à destinatária após 1 mês. Fez o mesmo trajeto para casa. Tomou chuva até conseguir encontrar a chave que abria o cadeado do portão, enquanto seu cachorro sujava de barro a calça que ele iria trabalhar amanhã. Esqueceu de passar no mercado. Lembrou de enviar, junto com a carta, uma foto que revelou na sala escura abandonada, onde outrora, realizava trabalhos fotográficos. 

Ela respondeu com um e-mail. 

sábado, 14 de dezembro de 2013

Cotidiano

toda aquela descrição
da cena
se torna completamente em vão
quando ela
acena
tão bela
e volta a olhar o chão.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Em vão, tudo vai

Só espero que após esse gole
o qual estás me servindo, patrão,
todos os nossos problemas
se transformem em solução.

Que as crianças que perto passam
não me vejam nessa situação
E não me vejam os namorados
que, além de vinho, bebem paixão.

Que o céu sob esse telhado
Me proporcione uma nova visão
Que o tempo que escorre da vida
Não escorra sobre as minhas mãos.

Espero que essa nova dose
Quem jaz em cima do balcão
Não me leve a esperar mais nada
de tudo aquilo que se espera em vão.

domingo, 24 de novembro de 2013

Rotina

Ninguém mandou você me acostumar com o teu sorriso. Antes, eu nem sabia o efeito que sua voz causava em mim. Não tenho culpa se, agora, a primeira coisa que quero ao acordar é deitar no seu peito, passar a mão no seu cabelo e ouvir sua respiração. Em minha mente não cabe mais lembranças do passado e do futuro com você. 

Se eu te amo, a culpa é sua.

sábado, 23 de novembro de 2013

Nota de um pedido qualquer

O plano era simples. Após jantar em um dos melhores restaurantes da cidade, conversar sobre todos os assuntos que ela considerava importante e fazê-la rir; nós iríamos à praia. Ela tiraria aquele salto alto prateado, deixando pegadas na areia; soltaria os cabelos ao vento e sairia correndo na frente. Eu, sorrindo, tentaria alcançá-la para sentarmos num lugar estratégico onde as ondas alcancem nossos pés, com uma abrangente visão do céu. Depois de alguns segundos em silêncio, eu diria:

 “– Nós devíamos morar no mar. Deitar sobre as águas claras e observar as árvores de longe. Pegar carona com golfinhos para ir trabalhar e, à noite, observar juntos as estrelas sendo refletidas no chão. Os nossos beijos seriam os mais molhados. Nos faltariam ar, mas nos sobrariam o a(mar). A impressão de infinitude que os oceanos trazem combina com o que sentimos; e vê-los no azul dos seus olhos me faz ter vontade de nadar em direção ao interior da sua alma, ultrapassando os limites da profundidade para me esconder entre os seus segredos.” 

Assim, eu a beijaria e a pediria em casamento ali mesmo, apenas em companhia da água, dos astros e do vento. 

No dia seguinte, liguei para confirmar o encontro. Ela, com uma voz rouca e meio sonolenta, disse que sairia tarde do trabalho, mas que poderíamos jantar perto da empresa. Meu plano começava a ser levemente destruído, pois a empresa ficava a quilômetros da praia.  Contive minha insegurança e marquei às 20h. 

Nos encontramos em frente ao restaurante. Em vez do vestido Princesas Disney e o salto prateado que eu imaginei, ela vestia o uniforme do trabalho e um tênis Nike. Os cabelos, esses sim, estavam ao vento. Bem ao vento. Muito mais do que precisava. O jantar foi ótimo, pelo menos essa parte saiu como eu planejei. Preciso lembrar-me de não planejar tanto as coisas na próxima vez. 

Saímos de mãos dadas e caminhamos sobre a calçada de uma rua fria. Eu, ela e um silêncio além-segundos constrangedor.  Essa era parte que eu devia improvisar, por pior que fosse o resultado, devia fazer algo. Ela esperava isso de mim. E eu também. Chamei-a para sentar numa pracinha, foi o máximo que consegui pensar. No vão entre dois prédios que atrapalhavam nossa visão, era possível ver um pequeno conjunto de estrelas. E foi nesse momento que a beijei, como um pedido de desculpa, e logo iniciei: 
“– Nós devíamos morar no céu...”

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Exato

O que mais lhe chamava atenção era a liberdade que ela encontrava quando chegava em casa. Andava descalça, tirava o sutiã e a calça jeans. Enquanto ele fingia ler o jornal, a observava passar seminua na sala, procurando os livros da faculdade. Matemática Discreta e Estrutura de Dados. Como aquela menininha loira, tão doce com as palavras, com a música, poderia se entregar com tanta veemência aos cálculos? Menininha que não era mais tão menininha assim, diferente de quando eles se conheceram. Antes, não havia estudos, empregos e jornais entre eles. Eram apenas os dois, que após dividirem as contas da casa e somarem as escovas de dente, se transformaram em um. E novamente aparece o cálculo. Talvez ela escolhesse esse ramo porque quisesse que pelo menos uma coisa em sua vida fosse exata.